O prazer de não ser visto
“A modernidade tem esses artifícios. A ideia da fotografia, por exemplo, que não é tão recente: projetar uma imagem para além daquele instante em que você está vivo é uma coisa fantástica. E assim ficamos presos em uma espécie de looping sem sentido.” Airton Krenak, A vida não é útil
O prazer de não ser visto
Não de se projetar para o vislumbre de outros, como se nossa existência fosse um espetáculo e tudo que fizemos tivesse alguma relevância. A história dos grandes feitos tinha lá suas peculiaridades, a quem essa história servia, a qual grupo gostaria de privilegiar, quem seria o responsável por tecer essa narrativa, mas nos tempos de hoje, tudo é considerável relevante, tudo é anunciado, tudo é relevante, tudo é compartilhado.
De não se tornar massa de manobra
Os feitos não vem mais carregados de sentido para um coletivo, para desenvolvimento da humanidade, para o aprimoramento de antigas práticas, mas conteúdos vazios a serviço de um capital que lucra com você sendo o espectador da vida alheia, você se torna um produto, uma massa manipulável e alheia a capacidade de criticar e se revoltar com as injustiças ou um sistema que pensa e age por você a todo instante.
Parece que o ocidente está morno
A concentração do poder nas mãos de poucos estão se organizando para um novo patamar, a forma de fazer política está demonstrando a capacidade que a humanidade possui de não aprender com os erros do passado. A história vai se repetir com um número ainda maior de espectadores, porque o plano está escancarado para o mundo, mas as mesmas vítimas de sempre.
Mas as mudanças são gradativas
O prazer de não ser visto, não está relacionado ao fato de ser inerte a realidade, mas de não se sucumbir aos desejos do capital em transformar os outros indivíduos em produtos com base da sua produção de algo raso. “A verdade é que nós não precisamos de nada que esse sistema pode nos oferecer, mas ele nos tira tudo o que temos” (KRENAK, 2020). Sabemos do que precisamos, a partir do instante em que nos conhecemos, caso contrário, algo ou alguém vai te ofertar algo para se sentir preenchido, o vazio.
Nem tudo é pelo entretenimento
Numa perspectiva puramente Lacaniana, o desejo é sempre o desejo do Outro, o reconhecimento da completitude se dar através do olhar do outro, mas mediante esse sistema que constante de apresenta uma falta e como compensa, o capitalismo se coloca nesse lugar de Grande Outro e permeia suas ações, seu modo de pensar, agir e sentir.
Entretanto há exaustão, há fadiga
Pra que sofrer pelo peso, pelo sofrimento e desgaste que autoconhecimento gera, se eu posso permitir que os outros digam pra mim quem sou, o que desejo, o que vai me completar, o que vai dar sentido a minha existência. Sustentar o lugar que me colocam é mais fácil que tentar descobrir o lugar que de fato eu mereço. Deixar que pensem e critiquem por mim, gera menos desgaste intelectual de energia que elaborar através da minha história, meus valores, minha moral, independente a qual viés vá favorecer.
A ânsia de querer e não poder e poder tudo, mas nem sempre ser apropriado
Conviver com o fato de que você não alcançará tudo que deseja é angustiante, por mais que você tente aceitar esse fato, mesmo assim você não desiste de tentar. Não admite, mas faz de tudo pra provar que é merecedor, sim, de algo para além do lugar que você veio. O mundo não nos deve nada, não precisamos provar nada para ele ou pra alguém, mas mesmo assim o fazemos, por que não temos certeza do pós-morte, não saberemos se teremos outras chances, mas daqui duas ou três gerações nosso nomes serão esquecidos, mas algumas fotos nossas ainda circularam por aí, enquanto houver internet e uma vasto armazenamento na nuvem ilimitada de informações, seremos resumidos a bits em um JPG.
A única certeza que temos no fim, é da morte, o resto, é mistério
Nesse ponto da reflexão, retomo o pensamento de Krenak, o “de projetar uma imagem para além daquele instante em que você está vivo”, você materialmente não estará mais aqui, mas seu estático permanecerá, não será capaz de passar todo o sofrimento, pensamentos, decisões que o levaram até ali, será apenas uma imagem para uns, vai ter algumas boas histórias com outros, vai ter mudado uma vida ou outra enquanto estava vivo e daí virá o fim.
Afinal de contas, nada é perfeito
A natureza não é perfeita, pois tinha um propósito, mas o desequilíbrio deste propósito gerou o caos que desencadeou em uma sequência de eventos inexplicáveis e incalculáveis que deu origem à vida. A vida não se deu através de um milagre ou de um ser criador, mas de um emaranhado de inconsistências e improbabilidades ínfimas. Por não acreditarmos nisso, determinados princípios, leis, ordens das coisas, precisamos de uma resposta para nossas perguntas constantes.
Olhamos pro céu e para as estrelas constantemente à noite
Observamos a natureza tentando encontrar essas respostas, buscamos nas histórias dos ancestrais algo lá que ainda não vimos com olhos do rigor da ciência, algo para diminuir a distância entre quem somos e o que temos potencial de nos tornarmos. De onde virá esse salto de desenvolvimento da humanidade, do avanço tecnológico mais rápido e menos dispendioso para nossas capacidades cognitivas, talvez.
Tem algo lá, gostaria de ser mais otimista, mas não sou
O presente constantemente me tira mais a capacidade de acreditar que estamos nos tornando pessoas diferentes na nossa forma de agir e tratar dos outros. Nossas diferenças não nos fazem mais fortes enquanto espécie, mas antes pelo contrário, colabora ainda mais para a necessidade de segregar, de se colocar como superior, de um melhores que os outros. Histórias que se repetem, só mudam seus atores sociais.
A questão é que você é o senhor do seu próprio universo.
Thais R.
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