A Psicologia de grupos e seus teóricos: Uma breve explanação
Principais Referenciais Teórico Técnicos
Kurt Lewin
Kurt Lewin trabalhou nas universidades de Cornell, Stanford e Iowa, fundou o Centro de Pesquisa de Dinâmica de Grupo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, (MIT), em 1945. É considerado o fundador da teoria dos pequenos grupos e pesquisa-ação em psicologia social.
Lewin acreditava que, a realidade social é multidimensional e na mudança social o pesquisador deve partir da compreensão, consentimento e participação dos grupos envolvidos. A mudança social vai envolver um compromisso tanto desses grupos quanto do próprio pesquisador, cuja base é o pequeno grupo.
A pesquisa-ação tem como objetivos: (1) resolução de problemas no contexto social; (2) elaboração de propostas de ação que colaborem com os sujeitos em suas atividades; (3) construção de conhecimento do grupo e do sujeito sobre si mesmo, valores e projetos; (4) produzir e socializar conhecimentos, a partir de situações específicas, que possam ser utilizados na sociedade (THIOLLENT, 2000).
Lewin também traz, as três ideias essenciais para uma aprendizagem social ativa e participativa, sendo elas:
A importância do papel ativo do indivíduo na descoberta do conhecimento
A importância de uma abordagem compreensiva na intervenção, que incluía aspectos cognitivos e afetivos.
A importância do campo social para constituir e transformar a percepção social e o processo mesmo de construção de conhecimento.
Bion
Wilfred Bion, foi psiquiatra e psicanalista inglês, trabalhou com grupos no período da segunda guerra mundial, desenvolvendo pesquisas sobre a formação e fenômenos de grupo. Para o autor, o homem é um sujeito social e por isso, se relaciona com o outro mesmo que de forma imaginaria ou simbólica. Todo grupo tem uma sua cultura própria, que é o resultado dos desejos de cada membro, valores e normas do grupo.
Alguns de seus conceitos principais são: Nível da tarefa (nível consciente, racional, articulado em torno de procedimentos e papéis de cooperação permeada pelo nível da valência); nível da valência (é a esfera emocional, organizado em três hipóteses de base ligadas entre si e podendo manifestar-se de forma alternativa; hipótese de base dependência (os membros demonstram ter comportamento de desejo de proteção do líder); hipótese "luta-3 fuga" (o grupo reage como se estivesse ameaçado por um perigo e devesse se defender dele) e a hipótese de base "acasalamento"(são os laços que se formam entre dois participantes no interior do grupo) (BION, 1975).
Foulkes
Foukesfoi um psiquiatra e psicanalista alemão. Desenvolveu trabalhos em “grupo análise”. Segundo ele, no grupo existe uma rede de elementos transferenciais dirigidos,de cada participante para o analista,de cada participante para o grupo,de cada participante para cada participante,do grupo como um todo para o analista.
O processo grupal vai acontecer e focar no aqui e no agora do grupo, tudo é trazido para o grupo.
Para ele existem três fases comuns a todos os grupos: (1) grande dependência do coordenador (2) ocorre maior integração entre os participantes. (3) fim do grupo onde prevalecem sentimentos de ansiedade, perda e luto. Outros conceitos importantes que o autor trata é o da rede e da matriz. A rede seria a soma das transações na qual se move o paciente, e o grupo também pode formar suas próprias redes, composta de todas as redes individuais já a matriz é uma mentalidade grupal, consciente e inconsciente, realimentada pela rede de comunicação no grupo (FOULKES, 1967).
Pichon-Riviére
Pichon-Rivière foi psiquiatra e psicanalista argentino. Em 1940 começou sua teoria do “grupo operativo”. Segundo o autor, grupo é um conjunto de pessoas, ligadas e articuladas por uma mútua representação interna, que se propõem explícita ou implicitamente a uma tarefa, em uma rede de papéis. Para o autor, o grupo tem uma tarefa externa e uma tarefa interna. A tarefa externa é delimitada pelos seus objetivos conscientes, explícitos, e que lhe dá identidade no contexto social e a tarefa interna são todas as formas de construção das relações no grupo para que este consiga realizar o seu trabalho. Todo grupo apresenta processos básicos, inter-relacionados e em movimento constante, denominado por vetores do processo grupal, que são: a afiliação (inclusão formal no grupo); pertencimento (maior grau de identificação dos membros), a comunicação, a cooperação, a tele, a aprendizagem e a pertinência (PICHON-RIVIÈRE, 1998).
Paulo Freire
Paulo Freire começou seus trabalhos na educação no Brasil, em 1950, formulando a educação como prática transformadora, que problematiza o mundo e o sujeito no mundo desenvolvendo-o para a liberdade. Segundo Freire, a concepção de aprendizagem dinâmica “ninguém educa ninguém, as pessoas se educam umas as outras, mediatizadas pelo mundo”, aprender e ensinar, dentro do campo operativo do grupo e a partir da sua rede de transferências.
A aprendizagem é uma realização de um sujeito da linguagem, em interação social. Sendo assim, ele propôs um método dialógico, baseado na linguagem e na cultura dos sujeitos que estavam aprendendo a ler e a escrever, demonstrando uma dialética de autonomia e heteronomia do sujeito no contexto. Cada aula era organizada sobre um tema ou uma “palavra geradora” estimulando uma leitura crítica e reflexão, sendo assim, para o autor, a aprendizagem só se realizava em um processo de problematização do mundo (FREIRE, 1967).
O Círculo de Cultura,vem para vencer obstáculos não apenas do cognitivos mas também dos ideológicos. Vencer uma visão ingênua de seu estar no mundo, problematizando esse mundo e expressando-o em uma nova linguagem-compreensão, possibilitando uma sensibilidade ao refletir em torno de situações existenciais do grupo, seja em situações de problemas, desafiando o grupo à reflexão e aprendizagem.
Papel do líder/Coordenador de Grupo
Segundo Moscovici (1997, p. 125) “líder é a pessoa no grupo à qual foi atribuída, formal ou informalmente, uma posição de responsabilidade para dirigir e coordenar as atividades relacionadas à tarefa” e estilo de liderança é “maneira pela qual uma pessoa numa posição de líder influência as demais pessoas no grupo”. A Relação coordenação-grupo é muito importante para facilitar e dar sustentação ao processo do grupo.
O coordenador tem a função de facilitar promover e mobilizar processos de reflexão, aprendizagem, informação e organização na situação grupal.
Fazendo-se uma leitura geral de Vecchio (1975); Moscovici (2001); Bechelli e Santos (2001) para ser um bom coordenador de grupos, o líder deve ter: competência técnica; competência interpessoal para conduzir o grupo com espontaneidade; orientar-se pelo ritmo do grupo e estar atento aos rituais e as crenças inerentes ao grupo; responsabilidade ser livre de pré-julgamentos, pré-conceitos e discriminação; não emitir diagnósticos e leituras que generalizam o comportamento do grupo, pois cada um é singular.
Segundo Moscovici (1965) a intervenção do coordenador após um fato ocorrido no grupal é de fundamental importância, pois propicia ao grupo tomar consciência de seus sentimentos relativos ao tema proposto; a leitura que o coordenador faz da situação permite a reflexão dos membros e abre oportunidades para o crescimento pessoal.
Entre os papéis de facilitação da tarefa do grupo podem ser observados os seguintes:
Instrutor/Demonstrador: Explica conceitos ao grupo, instrui sobre uma área de conhecimentos, traz fatos, dá ilustrações, apresenta exemplos gráficos, mostra como algo é feito.
Especialista: Oferece conhecimentos especializados, relata descobertas de pesquisas e inovações.
Orientador: Ouve cuidadosamente, usa questões de indagação não condicionadora, utiliza abordagem não diretiva para ajudar o grupo a pensar nos problemas e na técnica de análise de definição de problemas.
Conselheiro: Sugere alternativas sobre o que pode ser feito e como fazê-lo, e usa uma abordagem mais diretiva na indicação de ações, procedimentos etc.
Observador/Confrontador: Registra processos, comportamentos e eventos, relata e comenta coisas que existem, e como estão sendo feitas, relata dados comportamentais e percepções, dá feedback de sentimentos e impressões, usando episódios, incidentes e casos que podem ser confrontados pelos participantes.
Pesquisador/Indicador: Elabora modelos para coleta de dados, recomenda fontes ou pessoas para pesquisa, recolhe informações sobre dados existentes e como as coisas estão sendo feitas, identifica as informações necessárias, as fontes de conhecimento básico necessário, traz o que é necessário para o grupo.
Elemento de ligação: Elabora procedimentos de conexão entre pessoas e recursos, identificar os pontos de conexão entre sistemas e subsistemas, utiliza processos que provem interdependência ativa.
Planejador: Determina metas e objetivos, identificar critérios de desempenho, limites, pressões, determina sequência de atividades e estratégias de ação consistentes com metas e objetivos.
Gerente: Determina fluxo sistemático de eventos, aplica modelos de avaliação de necessidades e planejamento, dirige e controla fluxo de recursos. Diagnosticador: Usa técnicas de campo de forças e outras, dados e observações sobre o sistema para determinar por que as coisas acontecem da forma como acontecem.
Avaliador: Determina resultados comportamentais específicos, elabora referências de critérios ao nível socioemocional
Entre as funções de manutenção do grupo, Benne e Sheats (1961) destacam as seguintes como construtivas ou facilitadoras:
Conciliador: Busca um denominador comum; quando em conflito, aceita rever sua posição e acompanhar o grupo para não chegar a impasses.
Mediador: Resolve as divergências entre outros membros, alivia as tensões nos momentos mais difíceis através de brincadeiras oportunas.
Animador: Demonstra afeto e solidariedade aos outros membros do grupo, bem como compreensão e aceitação de outros pontos de vista, ideias e sugestões, concordando, recomendando e elogiando as contribuições dos outros.
Ouvinte interessado: Acompanha atentamente a atividade do grupo e aceita as ideias dos outros, servindo de auditório e apoio nas discussões e decisões do grupo.
Papéis não-construtivos:
Em todos os grupos em funcionamento, seus membros podem desempenhar, eventualmente, alguns papéis não construtivos, dificultando a tarefa do grupo, criando obstáculos e canalizando energias para atividades e comportamentos não conducentes aos objetivos comuns do grupo. Estes papéis correspondem a necessidades individualistas, motivações de cunho pessoal, ou a problemas de personalidade ou até, muitas vezes, decorrem de falhas de estruturação ou da dinâmica do próprio grupo.
Entre esses papéis não construtivos figuram os que seguem:
O dominador: Procura afirmar sua autoridade ou superioridade, dando ordens incisivas, interrompendo os demais, manipulando o grupo ou alguns membros, sob forma de adulação, afirmação de status superior etc.
O dependente: Busca ajuda, sob forma de simpatia dos outros membros do grupo, mostrando insegurança, autodepreciação, carência de apoio.
O criador de obstáculos: Discorda e opõe-se sem razões, mantendo-se teimosamente negativo até a radicalização, obstruindo o progresso do grupo após uma decisão ou solução já atingida.
O agressivo: Ataca o grupo ou o assunto tratado, fazendo ironia ou brincadeiras agressivas, mostra desaprovação dos valores, atos e sentimentos dos outros.
O vaidoso: Procura chamar a atenção sobre sua pessoa de varias maneiras, contando realizações pessoais e agindo de forma diferente, para afirmar sua superioridade e vantagens em relação aos outros.
O reivindicador: Manifesta-se como porta-voz de outros, de subgrupos ou classes, revelando seus verdadeiros interesses pessoais, preconceitos ou dificuldades.
O confessante: Usa o grupo como plateia ou assistência para extravasar seus sentimentos, suas preocupações pessoais ou sua filosofia, que nada têm a ver com a disposição ou orientação do grupo na situação-momento.
O gozador: Aparentemente agradável, evidencia, entretanto, seu completo afastamento do grupo, podendo exibir atitudes cínicas, desagradáveis, indiferente à preocupação e ao trabalho do grupo através de poses estudadas de espectador, que se diverte com as dificuldades e os esforços dos outros.
Papel dos membros dos grupos
Segundo Moscovici (1997, p. 125) “é USUAL E ENGANOSO pensar nos membros do grupo desempenhando apenas duas funções distintas: liderança e participação simplesmente”.
Moscovici (1997) destaca que a liderança não pode ser assim tão marcada e desempenhada sempre pelo mesmo membro do grupo. Os outros assumem liderança informal, de acordo com as diferentes situações que o grupo passa em seus processos de interação. A função membro do grupo significando não líder poderia dar a impressão de um comportamento não diferenciado comum a todos os componentes do grupo, excluído o líder que tem um papel nitidamente caracterizado, o que na verdade não ocorre.
Segundo Moscovici (1997, p. 125)
A vida de um grupo passa por várias fases e, em cada uma delas, os membros atuam de forma diferente duplamente: em relação à etapa de vida do grupo e em relação aos demais membros. Dependendo do tipo de grupo (formal, informal, de trabalho, social, de treinamento etc.) e da fase em que se encontra, haverá certas funções a serem executadas por seus componentes. Algumas funções são mais genéricas que outras, existindo em todos os grupos, e são desempenhadas pelos membros para que o grupo possa mover-se ou progredir em direção as suas metas.
Moscovici (1997, p. 125) em relação a como cada membro vai se inserindo nas funções pelo seu jeito de agir, traz que:
O complexo processo de interação humana exige de cada participante um determinado desempenho, o qual variará em função da dinâmica de sua personalidade e da dinâmica grupal na situação-momento, ou contexto tempo. Assim, no plano intrapessoal, o indivíduo reagirá em função de Suas necessidades motivacionais, sentimentos, crenças e valores, normas interiorizadas, atitudes, habilidades específicas e capacidade de julgamento realístico; no plano interpessoal, influirão as emoções grupais o sistema de interação, o sistema normativo e a cultura do grupo: no plano situacional, exercerão influência o contexto físico e social imediato, o contexto cultural, o sistema contratado de relações e a dimensão temporal.
Fatores emocionais que surgem nos grupos
Apesar de distinguir-se da Terapia de grupo, as Oficinas de grupo também apresentam fatores emocionais ligados a essa modalidade. Em seu livro "Psicoterapia de Grupo: Teoria e Prática", Yalom&Leszcz (2006), citado por Souza (2012) definem onze linhas naturais que dividem a experiência terapêutica em grupo, sendo elas: Instalação da Esperança; Universalidade; Compartilhamento de Informações; Altruísmo; Recapitulação Corretiva do Grupo Familiar Primário; Desenvolvimento de Técnicas de Socialização; Comportamento Imitativo; Aprendizagem Interpessoal; Coesão Grupal; Catarse e Fatores Existenciais.
Elementos Básicos dos Grupos
A dinâmica de grupos é essencial para que possa ressignificar e reconstruir contextos e questões através de troca de informações entre os participantes. Elas devem obter um desenvolvimento que facilite a comunicação e a funcionalidade do grupo, podendo incluir os processos de formação de normas, cooperação e competição com o objetivo de proporcionar aos membros uma melhor evolução nos assuntos apresentados. Divisões de tarefas e distribuições de poder e liderança também estão relacionadas ao método de aprendizado, podendo observar melhor o desempenho tanto grupal quanto individual do sujeito.
O processo de dinâmicas grupais contribui na produção da consciência no contexto de suas ações, através de manifestações de organização, expressão, solidariedade e criatividade que remetem ao contexto social. A vida de um grupo passa por várias fases e, em cada uma delas, os membros atuam de forma diferente duplamente: em relação à etapa de vida do grupo e em relação aos demais membros.
Dependendo do tipo de grupo (formal, informal, de trabalho, social, de treinamento etc.) e da fase em que se encontra, haverá certas funções a serem executadas por seus componentes. Algumas funções são mais genéricas que outras, existindo em todos os grupos, e são desempenhadas pelos membros para que o grupo possa mover-se ou progredir em direção as suas metas.
Apesar de distinguir-se da Terapia de grupo, as Oficinas de grupo também apresentam fatores emocionais ligados a essa modalidade. Em seu livro "Psicoterapia de Grupo: Teoria e Prática", Yalom&Leszcz (2006), citado por Souza (2012) definem onze linhas naturais que dividem a experiência terapêutica em grupo, sendo elas: Instalação da Esperança; Universalidade; Compartilhamento de Informações; Altruísmo; Recapitulação Corretiva do Grupo Familiar Primário; Desenvolvimento de Técnicas de Socialização; Comportamento Imitativo; Aprendizagem Interpessoal; Coesão Grupal; Catarse e Fatores Existenciais.
REFERÊNCIAS
AFONSO, L. Oficinas em dinâmica de grupo: um método de intervenção psicossocial. Belo Horizonte (MG): Ed Campo Social, 2002.
BARBIER, R.A pesquisa-ação. Brasília: Liber Livro, 2007.
BECHELLI, L.P.C.; SANTOS, M. A. Psicoterapia de grupo: noções básicas. Ribeirão Preto: Legis Summa, 2001.
BION, W. R. (1961). Experiências com grupos. Rio de Janeiro: Imago, 1975.
FOULKES, S. E.; ANTHONY, E. J. Psicoterapia de grupo. Rio de Janeiro: Biblioteca Universal Popular, 1967.
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1967.
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e gênese dos grupos. 6. ed. São Paulo: Duas Cidades, 1985.
MORENO, J. L. Psicodrama. São Paulo: Cultrix, 1978.
MOSCOVICI, F. Laboratório de sensibilidade. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1965.
_____________. Desenvolvimento Interpessoal: treinamento em grupo. 7 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1997.
_____________. A organização por trás do espelho. Rio de Janeiro: José Olympio, 2001.
PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
SOUZA, C.A. Psicoterapias de grupo em uma abordagem fenomenológico-existencial: um estudo exploratório. Psicologia.pt,UNIP, São Paulo: junho, 2012.
THIOLLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 2000.
VECCHIO, E. A. Entrevista psicológica e o psicodiagnóstico. São Paulo: Livraria Sulina, 1975.
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